domingo, 21 de dezembro de 2008

Dos Três Mal Amados - João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato


O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço


O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome


O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas, o amor comeu metros e metros de gravatas


O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus


O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos


O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão


Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte

Conto de Natal

ESTIVA

Aproxima-se mais um navio do porto. Parece ser um dos grandes, vai ter trabalho até o Natal, diz Antônio.
Nesta época, os biscateiros aguardam a chegada de navios, na entrada do porto, com a esperança de conseguirem trabalho até o dia de Natal. Todo ano a história se repete. Hoje, apenas os 40 primeiros da fila foram recrutados, os outros irão disputar novamente um lugar no ano que vem.
Já às quatro da manhã o Del’Rei aporta para o descanso de dois meses, antes de retornar a sua viagem até a costa portuguesa. −Todos a postos, gritam em meio à confusão causada pela chegada do navio. Esse veio pesado, diz Irineu, −que bom! vai ter trabalho para esticar até o dia 24, responde Antônio.

−Vamos, prendam as correntes, amarrem as cordas, ordena o encarregado de face carrancuda e voz grosseira.

Um barulho ensurdecedor cria um ambiente particular, como se mundo não houvesse fora daquele porto. Tinha-se que ficar bem atento às ordens do encarregado, não se podia falhar, ainda havia outros no portão à espera de uma desistência ou dispensa de algum agraciado. A cor alaranjada do alvorecer invade a proteção cinza e marrom do lugar. Aqueles homens, de corações expectantes, fitavam a nau como argonautas temerosos às peripécias divinas. Em seus íntimos, a neblina densa de receio, tomara o lugar da coragem que os levaram em busca de trabalho.

Antônio era um negro descendente de família forra, morava no bairro alto do Livramento, numa rua de calçamento pé-de-moleque, em casa isolada devota à Imaculada Conceição por fora; no interior a devoção era à mãe Oxum. Formou família ainda jovem, mulher e cinco filhos. Sua esposa cuidava da cozinha de uma das famílias ilustres da sociedade carioca. A cozinheira prendada e responsável chegava cedo ao seu reino de panelas e temperos. Seus patrões a tinham em alta estima; apesar da cor e de sua posição social, costumavam interpelá-la sobre sua casa, seus filhos e sobre Antônio. Muitas vezes, com a ajuda deles, ela garantira a única refeição que sua família faria no dia.

Enquanto Antônio tentava alcançar a ceia de natal da humilde, porém, feliz família, na casa era verdadeiro alvoroço: as crianças estavam ansiosas com a proximidade do Natal, e claro, com o retorno do pai. Elas sabiam que junto com o pai também viria a melhor refeição do ano. Os pequeninos sonhavam com a mesa farta de guloseimas −mesmo sabendo que os pratos servidos não passariam dos de sempre, acompanhados da iguaria comprada especialmente para aquela noite.

Irineu, amanhã é dia 24, já consegui o suficiente para este Natal, diz Antônio. Não vai sobrar nada para comemorarmos esse bichão-navegante que nos livrou da fome, indaga Irineu. Bem... Acho que dá pra tomar uma antes de eu subir o morro, mas não posso me demorar, a patroa vai chegar cedo da casa dos grã-finos e espera o pernil que vou levar, condiciona Antônio.

O alvorecer do dia foi intensamente esperado, os marujos, os estivadores aguardavam o tão ansiado apito. Às cinco horas em ponto, os portões se abrem, e os escolhidos dentre muitos daquele ano já podem retornar às suas casas.

-Antônio! Vamos lá pro Boteco São Jorge comemorar, grita Irineu.
-Eu vou, mas já avisei que não posso demorar, salienta Antônio.

Após doses e doses de água-ardente, Antônio apanha seu pernil dourado de tão assado, que comprara ali perto, numa padaria e toma seu caminho rumo ao morro do Livramento. Deixando a rua Imperatriz, já nas calçadas da rua da Direita...

-Ei, psiu, aonde vai com tanta pressa?
-Não me amole, diz Antônio.
-Espera; não quer um se divertir um pouco? Hoje é Natal, dia de realizar desejos.
-Tenho que ir, me deixa! Que isso, dona? Mas...é tão cheirosa...
-Então, aproveita, diz a mulher.

Antônio, com mãos calejadas apalpa aquelas carnes duras e viçosas, bêbado não vê o estender da hora e já noite desperta num beco escuro. Pensa, apenas, em seguir seu caminho.
−Antônio, onde você estava? Estou te esperando desde do fim da tarde. As crianças já dormiram, a essa hora devem estar sonhando com a ceia que não tiveram, o repreende sua esposa.
-Eu bebi um pouco mais, foi só isso, diz ele.
-Cadê o pernil?
-Pernil? Eu...
-Tudo bem, meu querido, sei que fez o possível por este Natal.

Pela janela, Antônio ouvia risos e felicitações sem a certeza de onde vinham, não sabia ao certo se eram verdadeiros ou fantásticos os ruídos que invadiam seu íntimo. Debruçado, de cabeça escondida, sentia um aperto em seu coração pelo vazio que insistia em permanecer no centro da mesa. Fitando uma estrela imponente, prometera a si que no próximo ano ele seria o primeiro a chegar ao porto.
Feliz Natal e um 2009 como quiseres!!!!!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Narrativa policial




ASSASSINATO NO BECO

Roberto Carlos
(Aluno do 1º ano do Ensino Médio da Escola E. Dr. Memória, em Niterói)


Um crime com requinte de crueldade

1
Havia em uma cidade de classe média duas gangues de jovens muito farristas, cada grupo tinha seu líder. A gangue Raio de sol com líder Barroso e os integrantes, Leandro Braço, Hermano Argentino, Tina a Patricinha e Thaca. Do outro lado da cidade, o líder da gangue Choque, Serginho, e seus companheiros Sandro, Marcão Bombado, Germano, Marcio Pegador e Pedro, essas duas gangues aterrorizavam as cidades com suas motos transformadas e seus carrões turbinados. Na delegacia o chefe de polícia Amorim já não aguentava mais tantas reclamações de moradores, donos de restaurantes e comerciantes em geral. O detetive Armando sai às ruas várias vezes por dia com seu ajudante, o investigador Peixoto, que muito enrolado não conseguia de jeito nenhum parar os arruaceiros. O chefe de polícia Amorim chama Barrosão, o pai de Barroso, até a delegacia. Ao chegar lá, Barrosão, ex- policial civil, pergunta muito intrigado: _ por que me chamou até aqui Dr. Amorim, há algum problema? O chefe respondeu: _ sim, Sr Barrosão, o seu filho e os seus colegas andam fazendo arruaça por toda cidade. O meu filho? perguntou Barrosão. Sim, respondeu o chefe, eles batem de frente com o outro grupo chamado Choque, é uma enorme pancadaria, armam o maior quebra-quebra e ameaçam os comerciantes e moradores da cidade. Por isso, convoquei o Sr a vir até à delegacia e também chamei o Sr Carlos Machado, o pai do Serginho, para que ele tome ciência dos fatos que ocorrem. Que provas o senhor tem para essas acusações tão levianas, perguntou Barrosão. O chefe de polícia respondeu: _ o morador Sr Fernando testemunhou tudo, inclusive já o chamei para esclarecer todos os fatos que vira. “Esse X-9... disse Barrosão. Convocado o pai do Serginho, Sr Carlos Machado, um respeitado empresário do ramo automobilístico. Depois de saber o que o filho anda fazendo disse: eu não acredito no que estou ouvindo hoje mesmo vou conversar com o Serginho e vou dar um fim nisto tudo antes que piore.
2
Enquanto isso, chega ao hotel da cidade um homem muito misterioso de nome Cardoso, vindo não se sabe de onde e também nada se sabe sobre a vida dele. Ele que teve uma grande discussão com Serginho, porque ao passar em frente ao hotel, teria avançado o sinal de trânsito e o atropelou, iniciando a confusão. Não houve agressão física. Kátia, uma garota de programa, presenciou tudo. Por ser pequena, cidade tudo era manchete do jornal O cidadão. O repórter Anderson saía com sua máquina fotográfica, seu bloco de papel e caneta na mão, escrevendo tudo que lhe interessava e tirando fotos de tudo, querendo registrar algo importante.
3
Aconteciam rixas muito sérias entre as gangues. Onde eles se encontravam era um quebra-pau generalizado, com casos na polícia e também entrada no hospital, agora existia um agravante. Tina, integrante da Raio de sol e namorada do líder Barroso, se apaixonara por Serginho, líder da gangue rival. Eles marcavam encontros às escondidas sem que os grupos soubessem. Mas em uma noite chuvosa, aconteceu o flagrante. Hermano, o Argentino, bateu de frente com os dois e ficou muito transtornado: _Tina que traição! E está com a outra gangue!!! Tina assumiu dizendo: _eu já estou cheia de ser controlada por vocês e o Barroso me enoja com aquele jeito marrento dele. Hermano então partiu para a briga. Serginho se defendeu e os dois rolavam no chão até que Hermano bateu a cabeça e desmaiou. Serginho então chamou uma ambulância que o levou para o hospital.
4
Lá no cafofo da gangue Raio de Sol chega a notícia completa do acontecido e Barroso fica muito irado: eu vou matar os dois pombinhos e quem mais se colocar no caminho. Leandro Braço tenta acalmar os ânimos, Barroso muito nervoso fala: _ não me encha o saco, Braço. Naquele final de semana, aconteceria a festa de casamento fora da cidade de um primo de Barroso, e ele iria para festa. Naquela sexta-feira aconteceu. Serginho marcou um encontro com Tina no chope da cidade, os dois assistiram ao filme no cinema e depois foram a um lugar mais reservado para namorar. Já na madrugada, às três da manhã, Tina falou: já é tarde vamos embora. E Serginho respondeu que a levaria em casa. Você está doido, disse ela, pairando logo depois um silêncio entre o casal. Enquanto isso, Hermano já recuperado procura Tina por toda a cidade junto com o resto da gangue. Ele ferve de raiva, o casal atravessa a cidade para o lado da gangue Raio de Sol e chegam à casa de Tina que se despede e Serginho volta para o seu lado, e antes que consiga atravessar a rua principal que divide os dois lados, acontece o encontro com a gangue rival. Serginho está acuado não sabe o que fazer, são muitos os que o cercam. Começam as agressões: chutes, socos, pauladas. Mas Serginho muito ferido consegue fugir, correndo despista os perseguidores e entra para o beco escuro e sujo. Sem ainda saber o que o esperava. No dia seguinte, já no sábado, todos procuram por Serginho que estava sumido. O pai, Sr. Carlos, vai até a delegacia e registra o sumiço de seu filho, vai também ao hospital e ao IML da cidade, mas nada encontra. O detetive Armando começa as investigações pelo chope onde o casal esteve, faz algumas perguntas. Pelas aparências descritas, chega até Tina.
5
Ela lhe confessou que ele a deixou em casa e seguiu para sua. O chefe da polícia também convocou as gangues pra deporem e descobriu que Hermano e seus comparsas teriam agredido a vítima, por isso prendeu todos para averiguação. Logo depois, chega a notícia que acharam um corpo no beco da cidade. O jornalista Anderson foi ao beco procurar algo para escrever e encontrou o corpo de Serginho e também um mendigo que ali dormia, cuja existência ninguém sabia na cidade, com um único ferimento feito a golpe de machado que ainda se encontrava cravado em seu crânio. Começam a investigação. Das duas gangues, todos depuseram, com exceção de Barroso que não estava na cidade e era o principal suspeito, mas ele tinha o forte álibi da festa de casamento. A garota de programa Kátia informou ao chefe de polícia que tinha testemunhado a confusão entre o visitante misterioso e o Serginho. Ele também foi chamado para depor. Como todos os comerciantes eram também suspeitos, depois de muita investigação e pressão por parte da família de Serginho, chegou ao detetive uma informação muito importante, que um mendigo estaria vendendo o relógio e o celular da vítima. Prenderam o mendigo e assim chegaram ao assassino que confessou o crime, alegando que o matou para roubar os pertences, aproveitando de sua fraqueza naquele momento e assim foi desvendado o mistério de um crime no beco.

(A oralidade da narrativa foi respeita nesta publicação.)

Mais uma turma que vai embora



Queridos alunos e Queridas alunas


Chegamos a mais um fim de etapa. A vida é cheia dela. Seu início e término são as únicas certezas que temos. Se foi proveitosa, de grande aprendizagem, de descobertas, se auxiliou em nosso crescimento, somente o tempo por vir poderá nos dizer. E eu, a Professora, espero que no futuro vocês possam perceber que o tempo em que estivemos juntos foi importante para o desenvolvimento de vocês.


Contudo, além das oportunidades de troca que lhes proporcionei, eu, Fernanda, espero ter contribuído para o crescimento de vocês como homens e mulheres. Anseio sinceramente que as marcas da fé, da esperança, do comprometimento e, principalmente, do querer vencer tenham ficado nesta etapa que se conclui.


Chamo o tempo em que passamos juntos de etapa, pois outra se inicia para todos nós e quem sabe não nos encontraremos lá na frente.


Tenham a certeza de que a saudade já é muita, os dias serão diferentes sem estes rostinhos, e saibam que aqui vocês deixaram uma professora, uma amiga, uma torcedora que muito os amam.



Vão em frente!!!


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Consciência Negra

No samba, no batuque do axé, no carnaval, na cozinha, em outros, como a faxineira, o porteiro, o policial, o camelô, cadê, o médico, o professor, o advogado, o engenheiro, já podemos dizer, o presidente e o campeão de fórmula-1. Que bom que este dia chegou, declarar que o NEGRO está em lugar além do esperado e do que nos foi legado.

Quando discursamos sobre a trajetória da negritude é quase impossível não nos referir ao abandono herdado do regime escravista. Como não mencionarmos o passado, se esse é tão latente e faz com que a evolução seja a passos curtos e lentos. Não desgastar o discurso é inevitável, quando nos deparamos todos os dias com cenas, falas, e ações ainda tão racistas. Entrar numa sala e dar uma aula de 40 minutos para uma comunidade carente, não preciso citar o percentual de negros que a compõe, quando no bairro vizinho, alunos, em sua maioria branca, assistem a 50 minutos de aula. Sei que posso parecer exagerada mas como fingirei que não há apartheid social, quando vejo crianças negras morrendo na violência nossa de cada dia.

É dia de celebração, de festejo, sim, por isso congratulo com meus irmãos, de cor e sem cor, e espero assim como esperamos que o dia de amanhã seja melhor que o hoje.

Salve Zumbi!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Pedido de Desculpa

Olá, Pessoal


Estou ausente porque, como sempre, estou assoberbada de tarefas. Podem acreditar, não é hipérbole jogada fora!!!!! Estou participando de um projeto na escola que me toma tempo e eu o dôo com prazer. Tristemente é o tempo que tenho para postar algo aqui que foi cedido a esta proeza.

O grande barato é que a revitalização da Biblioteca foi concebia por mim, em 2006. No entanto, quando pensei em levar a proposta à direção, iniciou-se um projeto de catalogação do acervo. Logo, abandonei a idéia. Agora, surge esta iniciativa e eu estou muito animada, pois poderei executar o que vislumbrei há tempos. Confesso: li o livro O Segredo ou The Secret. É... vibrei na energia certa e o projeto voltou pra minhas mãos.

Aproveitando a oportunidade, levantei uma lista de títulos como sugestão de aquisição para o nosso acervo. Apanhei um pouco na hora da Literatura Infanto-juvenil mas foi enriquecedor. Quando terminei a lista, deu-me vontade de adquirir todos os livros e lê-los para meu sobrinho. Daí, pensei: por que não dividir com os papais, mamães, titias e afins que ficam perdidos na hora de comprar um livro infantil? Posto a lista para que vocês a consulte quando forem comprar um livro que pode levar os pequenos a uma viagem emocionante.


Beijocas e até o próximo fôlego.



Super lista:
A Arca de Noé De Vinícius de Moraes
A Bolsa Amarela" De Lygia Bojunga
A Fada que Tinha Idéias De Fernanda Lopes de Almeida
A Flor do Lado de Lá De Roger Mello
A Maior Flor do Mundo De José Saramago
A Moça Tecelã De Marina Colasanti
A Televisão da Bicharada De Sidônio Muralha
A Vida Íntima de Laura De Clarice Lispector
Alice no País das Maravilhas" De Lewis Carroll
As Aventuras de Tom Sawyer De Mark Twain
As Mil e Uma Noites - Volumes 1 e 2 Versão de Antoine Galland, com tradução de Alberto Diniz
Os Miseráveis" De Victor Hugo, com tradução de Walcyr Carrasco
As Narrativas Preferidas de um Contador de Histórias De Ilan Brenman
Bisa Bia, Bisa Bel" Escrito por Ana Maria Machado
Bruxinha Atrapalhada De Eva Furnari
Chapeuzinho Amarelo De Chico Buarque
Contos de Grimm De Wilhelm e Jacob Grimm
Contos de Perrault De Perrault
Corda Bamba De Lygia Bojunga
De Não em Não De Bartolomeu Campos de Queiróz
Dengos e Carrancas de um Pasto De Jorge Miguel Marinho
Diário de um Gato Assassino De Anne Fine, com tradução de Mariana Rodrigues
Doze Reis e a Menina no Labirinto do Vento De Marina Colasanti
É Isso Ali De José Paulo Paes, com ilustrações Walter Vasconcelos
Exercícios de Ser Criança"De Manoel de Barros
Fábulas De Monteiro Lobato
Faca Afiada De Bartolomeu Campos de Queiróz
Histórias de Bobos, Bocós, Burraldos e Trapalhões"De Ricardo Azevedo
Histórias Maravilhosas de Andersen De Hans Christian Andersen
História Meio ao Contrário De Ana Maria Machado
Indez De Bartolomeu Campos de Queirós
Indo Não Sei Aonde Buscar Não Sei O Quê De Angela-Lago
Lin e o Outro Lado do Bambuzal De Lúcia Hiratsuka
Mania de Explicação De Adriana Falcão
Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias De Ruth Rocha
Memórias da Emília De Monteiro Lobato
Menina Bonita do Laço de Fita"De Ana Maria Machado
Meninos do Mangue De Roger Mello
Meu Livro de Folclore De Ricardo Azevedo
Não Olhe Atrás da Porta De Lia Neiva
No Olho da Rua De Georgina Martins
Nossa Rua Tem um Problema De Ricardo Azevedo
O Bichinho da Maçã"De Ziraldo
O Gênio do Crime"De João Carlos Marinho
O Mágico de Oz" De Lyman Frank Baum
O Menino Maluquinho" De Ziraldo
O Menino Quadradinho De Ziraldo
O Menino que Espiava pra Dentro De Ana Maria Machado
O Olho de Vidro do Meu Avô De Bartolomeu Campos de Queirós
O Pequeno Nicolau De René Goscinny
O Pica-pau Amarelo De Monteiro Lobato
O Sofá Estampado De Lygia Bojunga Nunes
Onde Tem Bruxa Tem Fada De Bartolomeu Campos Queirós
Os Doze Trabalhos de Hércules De Monteiro LobatoEditora Brasiliense
Os Rios Morrem de Sede De Wander Piroli
Ou Isto ou Aquilo De Cecília Meireles
Palavras, Palavrinhas e Palavrões De Ana Maria Machado
Pé de Pilão De Mário Quintana
Pererêêê Pororóóó" De Lenice Gomes
Peter Pan De James Barrie
Poemas para Brincar De José Paulo Paes
Poesia Fora da Estante (volumes 1 e 2) De Vera Aguiar, Sissa Jacoby e Simone Assumpção
O que os Olhos Não Vêem De Ruth Rocha
Raul da Ferrugem Azul De Ana Maria Machado
Reinações de Narizinho" De Monteiro Lobato
Restos de Arco-Íris De Sérgio Capparelli
Sabedoria das Águas De Daniel Munduruku
Seis Vezes Lucas De Lygia Bojunga
Sua Alteza, a Divinha - Um Conto do Nosso Folclore De Angela-Lago
Todo Cuidado é Pouco! De Roger Mello
Um Homem no Sótão De Ricardo Azevedo
Um Passarinho Me Contou De José Paulo Paes
Viagem ao Céu De Monteiro Lobato





terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cronicando

1º DE JANEIRO DE 2005

FernandaSantos


Neste Ano Novo, quero tudo novo. E, nada melhor que a água para iniciar esta renovação.

Foi assim que senti minha vida transmutada: o meu 2005 seria límpido, incolor e inodoro, pronto para ser solução diluente. Até meu rejuvenescimento estivera garantido; encontrava-me diante da fonte da juventude que brotou em minha sala no primeiro dia deste ano.

De repente, me vi imerso - não no mar saldando Iemanjá e muito menos Netuno - mas no alagamento do meu apartamento. Acordo e encontro minha sala de estar alagada. Fazer o quê? Secar a água é o óbvio.

Durante o tempo em que esticava o pano de chão e o torcia no balde, vi a retrospectiva do meu 2004 passar feito programa de TV apresentado em fim de ano. Refletido ali, naquele espelho límpido, mas tão molhado. Percebi que a nossa vida corre rápida, como água que escoa. Que ela por mais que se empoce, um dia encontrará um caminho para seguir seu rumo. Nesse encontro, onde ela é impotente para escolha, cabe conformar-se com o que a superfície lhe oferece. Se há alguma tortuosidade, ela pára, espera, se acumula e transborda em busca da liberdade. Se a trilha é plana e, ainda, quedada, à vontade ela cumpre seu destino de seguir, ir longe até aonde seu fluxo permitir.

Aqui, agachado, cerco-a por todos os lados. Não quero que ela ultrapasse. Enquanto a reservo num balde para ser despejada no ralo. Noto quantas coisas boas não cerquei, não torci até a última gota. Quantas pessoas deixei de acumular no balde do meu convívio, no balde de meu gostar e quantos momentos joguei pelo ralo. O quanto o medo foi maior que a força da água. Transformei-me, aos poucos, em um ser indefinido, sem forma, sem contorno, sem preenchimento.

Viver, tornou-se complicado e perturbador. O mundo em que eu me isolei era composto por formas frias e insosas. O céu sobre minha cabeça não era azul, pelo contrário, apresentava-se constantemente cinza. Dentro deste mundo percebi o que é a força do desejar. Morri para vida quando renunciei ao desejo. O que me impulsionava à criação, ao amar, ao viver deixou-me só com a lembrança do que foi felicidade para mim.

Dor... que dor é essa que me consome, rasga o peito com o punhal fino da apatia. Não, não culpo ninguém, a escolha foi minha. Não cabe a ninguém me dar os melhores momentos da minha vida, mas somente a mim criá-los.

Acho que a minha última prece do ano foi ouvida. Os deuses, os orixás, os guias ouviram meu clamor por renovação. E, começaram, justamente, pela minha sala.



Crônica publica na antologia Onze cores da uva, organizada por Christina Ramalho, editora OPUS, 2006

domingo, 28 de setembro de 2008

Sugestão

Domingo à noite, frio, chuva, fome. Combinações perfeitas. Resultado: omelete de manjericão. Além de saborosa, a erva tem o poder de atrair a prosperidade. Que venham coisas boas, a casa está aberta.

Boa noite e axé!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Ainda Clarice...

O assunto Clarice Lispector não terminou, lá, na escola. Ainda ouço rumores, ti-ti-tis, disse-me-disse sobre a vida e a obra da escritora. Fico muito envaidecida, é claro. Uma vez que tudo isso ocorre por causa da minha iniciativa e meu talento pra contar história. O resultado não poderia ser diferente: eles se apaixonaram por ela assim como eu. Rsrsrsrs

Bem, diante disso, acho conveniente agradecer à Clarice (posso chamá-la pelo primeiro nome, somos íntimas) por tudo o que ela me tem proporcionado. Além do livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres ter revolucionado minha vida, ela me concedeu a oportunidade de ter meu trabalho reconhecido. O prêmio que recebi deveu-se à enorme influência clariciana na minha produção. E, nada mais justo, acho que até tardio, publicar na rede o conto que me lançou na vida literária e me obrigou a mostrar a que vim neste mundo.




Capinzal


Um certo dia, numa tarde de ventos do oeste, algo não estava normal. Não era como outras tardes. B. recolheu-se para a cozinha a fim de preparar o jantar, pois o Tonho já iria voltar do campo. Porém, havia algo de diferente no ar.

Estavam à mesa quando, de repente, bateram na porta. Tonho atende: é um viajante pedindo abrigo, pois o temporal estava assustador e seria impossível continuar sua jornada. Servem-lhe a sopa, que ainda estava quente, dão-lhe roupas secas e uma esteira no canto da sala próximo à lareira.

Digo ao Tonho que o forasteiro não é como os outros. Ele diz pra eu deixar de cisma... Ele sempre tem razão, pois mulher tem miolos fracos, ele, que é homem é que sabe das coisas. Naquela madrugada, os ventos estavam mais fortes do que o costume, o capinzal parecia desmaiado, como se o vento houvesse sugado suas forças.

Bem cedinho, desci para preparar o café, quando percebi que o forasteiro estava a ceifar capim para os cavalos e o Tonho o observava: Preciso pagar de alguma forma a acolhida e a benevolência recebida.

Sol a pino, sirvo o almoço, não consigo tirar os olhos das mãos e dos pés do desconhecido. É como se alguma força me atraísse. Nunca vi dedos tão perfeitos, bem desenhados, tão diferentes das unhas do Tonho; aliás, acho que nunca vi outro dedo a não ser o do Tonho. Essa é a primeira vez que percebo que pés e mãos não são simples partes do corpo. São como chaves para portas que ainda estão fechadas.

E, então o que fazes por essas bandas? diz, Tonho.
-Procuro aprumar minha vida...
-Não tem família, é sozinho?
-Ah Deus não me felicitou, assim que nem o senhor que tem uma casa, uma boa esposa...Sou um pobre diabo que sobrevive a cada dia com o que a sorte me guarda.

Minha Nossa Senhora, fiquei paralisada, “boa esposa”. Pensei, nunca ouvi isso...Elogio era desconhecido em seu mundo. Ali, no seu habitat era apenas um utensílio doméstico, uma composição característica daquele ambiente rude e marrom. Uma mulher que não sabia o que era ser mulher, às vezes se achava parecida com os animais. Com a diferença de que Tonho passava muito tempo a cuidar deles.

De tempo em tempo, passavam pela região uns vendilhões com suas quinquilharias. Da última vez, implorei ao Tonho que comprasse um exemplar de uma revista que retratava a moda francesa e trazia na capa uma foto de uma atriz. Apesar de a revista já estar amarelada devido ao tempo e de eu saber que nunca iria usar um daqueles vestidos, fiquei horas a contemplar as fotos e a sonhar com cenas que eu construía limitadamente, pois eu não conhecia o mundo, não sabia o que era a vida além do capinzal, e, assim, não tinha como idealizar meus próprios desejos. Nem mesmo tinha consciência de que os tinha.

Ali, sentada em minha cozinha, olhando pela porta, notei que o meu olhar era moldado à forma das janelas e portas daquela casa. Que a claridade do sol nunca era límpida, pois sempre a percebia pela sombra de algum cômodo...Quando, de repente, o estranho atravessa minha visão, achei que fosse impressão, mas não era, ele estava a me espreitar. Fingi continuar em meu devaneio...ah...o tempo não passa. É...a vida no campo é tranqüila, porém ela tem dessas coisas, disse-me ele, e acrescentou “na cidade, não...é corre-corre, é impossível ver o tempo passar. Quando nos damos conta, aí já se foi o dia.”

-B! gritou Tonho. Já disse que não quero você de conversa com esse sujeitinho, aliás, não sei o que ele viu na sua prosa para lhe dar tanta atenção. Você não tem nada dentro dessa cachola.

Na manhã seguinte, o vento voltou a soprar do leste. B. sentiu novamente algo de diferente, mas com um pouco mais de naturalidade. Parecia que a mudança havia se sedimentado.

Sol a pino, Tonho volta do campo, senta-se à mesa e percebe que, naquele dia, o fogão não fora aceso.

Edward Weston


Este conto venceu em 2004 o concurso de conto Prata da Casa patrocinado pela Petrobrás.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Amor entre deuses

Alguns motivos me incitaram a postar este conto. Ele não é uma pérola literária, mas uma alusão aos bons e inexplicáveis acontecimentos da vida.

Primeiro, ele me é muito querido, pois o dediquei a uma pessoa que não será facilmente esquecida. Depois, por envolver questões de "outro mundo" e ser este momento da manifestação em prol da liberdade religiosa. Creio que o tema seja bem-vindo. E, por fim, a narrativa é simples e relaxante.

Críticos, afastem-se!
Leitores, aprocheguem-se!




ao meu Rei

Sempre tive curiosidade pelas coisas do oculto, do místico, do que não se pode provar cientificamente. Mitologia então, eu adorava as aulas na faculdade de Letras. Você deve estar gostando... aquelas histórias quando narrada por um bom professor de literatura não há como resistir, é paixão na certa. Vejo que anda lendo sobre a mitologia da África. Está com pressa? Sabe, vou te contar algo que aconteceu no século passado, não faz muito tempo, quando da febre da tecnologia celular. Bem, o que eu mais gostava na mitologia eram as questões amorosas e muitas vezes viam-nas se repetir na vida real. É sim! Aconteceu no início do ano... não me lembro bem, o importante é que ela depois disso se transformou em uma nova pessoa.

Era de poucos amigos, mas agradava a muitos. Fazia sucesso por onde passava: menina faceira, bonita, de falar doce, mas intrigante, possuía um ar de realeza. Chegando numa noite a um samba, como de costume paravam para vê-la adentrar o salão, se sobressaía à cena, pessoas e objetos se tornavam adornos para seu triunfo. Seu olhar à altura do horizonte, seus passos firmes, pé ante pé, dominavam e encantavam os que a observava. Naquela noite, seus olhos seguiram numa única direção. Ele altivo, discreto, emanava um som encantador. Fitaram-se tal quais heróis em duelo. Ela pensou: o quero pra mim. Dali em diante, somente a sua voz e sua imagem eram percebidas por ela. A dança de olhares durou toda a noite, até que ele foi falar com ela. Descobriu seu nome, sua profissão, onde morava, informações que viabilizariam um próximo encontro. Entretanto, sua timidez era demasiada perante tanta sedução e beleza.

A dama de olhar oriental se fazia familiar a tantas Ritas, baiana e carioca, cantada e versada capaz de atear fogo às veias dos homens e roubar-lhes a alma pelos olhos. Assim, lançou seu encanto e enfeitiçou o rapaz. Este obediente e nada de rogado marcou presença, fez a sala e ao conduzi-la à saída roubou-lhe um beijo demonstrando sua ousadia e coragem, seu arquétipo de herói merecedor da mais valiosa recompensa. Ficou a esperar o retorno da dama. O momento tão desejado não tardou, ela chegou mais uma vez radiando luminosidade e ofuscando a todos por onde passava, seus olhos brilharam ao vê-la, ela, porém via outros além dele. Quando se achavam em apropriado momento para dizerem, ou melhor, revelarem o que queriam de si. Um se aproximava, outro cumprimentava, perguntavam quem era, de onde vinha, quem a trouxe. Num piscar de olhos, concorrentes e admiradores a cercavam, afastava-a de um momento íntimo com aquele ser de postura majestosa. Ele, comprovando sua origem de boa linhagem, se manteve distante à espera da decisão da musa. Menina avoada, de pouco juízo, não sabe os méritos que possui. Sem pensar, direcionou seu olhar e atenção a um caboclo caçador, possuidor do poder da palavra e do galanteio, deixou se levar e levada foi para longe do Rei que se enamorara por ela. Viveu um romance válido por trinta dias. A dama irresistível nada via de alegre e encantador nos dias que passou ao lado deste caçador. Nasceu para brilhar, para o conforto dos grandes salões, gostava de adulações consistentes, parecia viver em um casebre na mata, aguardando a benevolência da natureza. Embora a vida fosse de fartura, esta personificação de Rita Baiana logo se cansou da falta de luxo e brilho que se instalara em sua vida.

Já acabrunhada, sem rumo, chorosa, sua divindade não a desamparou. Tirou-lhe de casa e a levou em noite de lua cheia ao encontro do Rei que um dia fora motivo de seu sorriso de felicidade. Ao vê-lo, suas pernas bambearam, seu coração acelerou. Indícios de que a profecia se cumprira. Sua firmeza já não mais existia: titubeia nas palavras, seu sorriso agora não é o de mulher fatal, mas o de menina que não sabe o que fazer de tanta emoção. Sem perder tempo, deixa aflorar sua astúcia e ardilosamente encanta de vez o Rei que esteve à sua espera.

Engraçado, Vovó, até parece uma lenda que li onde é narrada a intervenção do caçador Oxossi no amor de Xangô, Rei da nação de Oió, pela Deusa Oxum; e esta Rita não se parece com a do Aluísio se parece com a senhora.
_ Filha, quem disse que as lendas não se tornam realidade?



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Com a benção e com muita humildade foi usado um trecho do livro O Cortiço Rio de Janeiro: Tecnoprint, - EDIOURO. Trata-se de “capaz de atear fogo às veias dos homens e roubar-lhes a alma pelos olhos”.

domingo, 14 de setembro de 2008

É um caminho.


Clarice Lispector - A hora da estrela

Será preciso coragem para fazer o que vou fazer: dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita.
Clarice Lispector - A paixão segundo G. H.




Hoje, estivemos na exposição Clarice Lispector - A hora da estrela. Calei-me e deixei que a guia da exposição fizesse o seu trabalho. Como é difícil o silêncio na hora certa. Como foi angustiante abrir mão daquele momento e entregar meus queridos na mão de estranhos. Quanto quis dizer-lhes sobre a obra, sobre a autora e neste momento humildemente me calei para que eles pudessem ouvir outra voz, ver outros olhos, olhar com os seus.






quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Trabalhando... será?

Projeto Ilha de Paquetá


Visando o incentivo a leitura e em atendimento ao currículo de literatura da segunda séria do ensino médio, desenvolvi o projeto intitulado A Moreninha.

A atividade transcorreu em três momentos: leitura do romance, análise literária e resenha do livro. Para ajudá-los a se identificarem com a linguagem e com o enredo, visitamos o suposto cenário do folhetim, Ilha de Paquetá. Isso contribuiu para que eles se esforçassem para ler o livro antes da visita à ilha.

A avaliação foi realizada através de estudo dirigido, questões relativas ao romance e ao contexto histórico da época. A turma se surpreendeu muito com os caracteres da personagem Moreninha, chegando a considerar: ela é muito "assanhadinha" para a época.




terça-feira, 9 de setembro de 2008

Exposição - Clarice Lispector


Estarei neste domingo, 14/9, às 10h com as minhas turmas na exposição Clarice Lispector - A Hora da Estrela. A maioria dos meus amigos sabe da relação transcendental que tenho com esta dama literária. Se quiser aproveitar o passeio, sinta-se convidado.

"Exposição cenográfica que assinala os 30 anos de morte da escritora, falecida em 1977 e de publicação da novela A hora da estrela. Com textos, objetos pessoais da artista, reconstituição de espaços cênicos citados em sua obra e vídeos com entrevistas, a mostra comprova que a autora continua a ocupar, mesmo após três décadas de ausência, um lugar único na literatura brasileira. Com cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara, a exposição traduz o caráter reservado e intropesctivo da autora, por meio de uma ambientação intimista. Curadoria: Julia Peregrino e Ferreira Gullar "

1° andar

19 de agosto a 28 de setembro
3ª a dom., de 10h às 21h
Entrada franca

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Solitudine

Não sei se esta idéia de felicidade de mulher independente, auto-suficiente, sozinha, completa... há verdade total.

A solidão existe para todas ou todos _ como queiram. O que fazemos é criar empecilhos para impedir sua atuação. Umas trabalham muito, outras cuidam de sobrinhos, algumas freqüentam roda de samba de segunda a segunda, escrevem, navegam na rede. Tudo para se desvencilhar do “estado” solitário. Será que resolve?

A solidão é camaleônica, adequa-se ao espaço e ao tempo. Numa hora ou outra, ela aparece. Seja com estardalhaço, fazendo doer o peito, aos berros para que saibamos que ela está ali, bem pertinho; ou com estratégia, sorrateira, espreitando o momento certo de se aproximar, assim não prenuncia sua chegada. Às vezes, até se faz de meiga, doce, senta-se ao nosso lado no sofá como se fosse uma antiga companheira. E ali, fica, preenchendo o vazio, se fazendo presente, residente no espaço daquilo que ainda não conseguimos atingir ou alcançar.

Calma, não estou deprimida. Mas quem um dia não se sentiu sozinho no meio da multidão?

Esta noite, durante uma atividade na sala de aula, em que os alunos deveriam apresentar à turma o texto que escolhera de Clarice Lispector. Um dos citados foi a crônica Você é um número. Ao refletirmos sobre o tema, nos deparamos com a idéia de solidão oriunda da impessoalidade. A conversa foi filosófica...

Chegamos à conclusão que ao sermos representados socialmente por um número, não adquirimos só a exclusividade da existência, mas junto com ela vem a impessoalidade. Esta em seu sentido mais pejorativo. É quando nos referimos ao nosso segundo carro, ao nosso terceiro ex-noivo, ao quinto cachorro. O distanciamento é tanto que no decorrer da conversa até nos esquecemos dos nomes das personagens.

E nesta forma de classificação – numeral - ao sermos ímpares, únicos, sem duplicação de CPF, somos seres solitários sem comprometimento com o alheio, sem culpa no cartório.

sábado, 6 de setembro de 2008

A quem possa interessar

Eu sol, irradio luz
Que queima, cega, sua
Eu água límpida
Que limpa, purifica, cura
Eu vida, existo
Vivo em ti


Irá me esquecer????? rsrs

Hora de trabalho...


Esta postagem é para os colegas de profissão. Uma sugestão de trabalho para semana da Consciência Negra.

Este projeto foi idealizado para atender ao calendário da escola em que leciono. Lá, quando cheguei havia um projeto intitulado "Dandara", desenvolvido durante a Semana da Consciência Negra. Para participação dos meus alunos, pensei em uma atividade em que eles pudessem participar integralmente do processo sem a perda do foco de desenvolvimento do conteúdo programático. Três atividades foram estabelecidas e designadas às turmas, de acordo com o seu perfil: teatro, exposição e documentário.

O Teatro

Coube à turma mais jovem a apresentação de uma peça de teatro em que se retrata uma situação relacionada ao tema. O grande desafio seria a construção do roteiro e logo após o texto dramático.

O desenvolvimento desta etapa foi muito divertido, é claro. Vocês, colegas, sabem o que ocorre quando permitimos que a criatividade ande solta pela sala. Surgiram inúmeras idéias, umas possíveis outras absurdas, é neste momento que nossa participação como moderadores é fundamental. Digo moderadores, porque são os alunos quem concebem e executam, nós apenas aparamos arestas e oferecemos recurso e/ou conhecimento para solucionar algum problema que ocorra. As situações que foram definidas para serem retratadas: assinatura da lei Áurea, declaração da liberdade acompanhada de grande festa.

A exposição

Esta atividade foi direcionada à turma mais madura, entre 40 e 60 anos, por não requerer maior exposição dos alunos. Aqui, também a concepção e a execução foram assinadas pela turma. Decidiram pesquisar os escritores negros da Literatura Brasileira. O desafio foi a pesquisa, a compilação e resumo, o texto de abertura da exposição e apresentação aos visitantes.

O documentário

Este momento foi o mais complexo, pois outras pessoas da comunidade foram envolvidas. A proposta era de apresentar à comunidade escolar as influências africanas na comunidade local da escola, por isso intitulamos o trabalho de Manifestações afro-descendentes: as várias linguagens.

O grande desafio desta etapa tratava-se do planejamento e execução do documentário. Para isso, foi necessário que eles assistissem a um como exemplo, para conhecer este tipo de linguagem.

Conhecer a estrutura do documentário foi fundamental. Determinar bem cada momento como: que tipos de eventos devem ser filmados, onde você deve ir para filmá-los, quem – ou que tipo de pessoa – deve ser filmada, que tipo de comportamento você está procurando, o que você precisa como background para as tomadas, que tipo de depoimento – tanto de arquivos quanto de entrevistas – pode ajudar você a apresentar a idéia do documentário. Isso embasou a produção do texto de apresentação do filme.

Em relação à produção, decidiu-se que a escola de samba, o grupo de pagode, o terreiro de candomblé (contribuição da língua Ioruba) seriam as manifestações privilegiadas, pois se destacavam no local, no bairro Cubango, em Niterói.


Este projeto está estruturado e pronto para ser aplicado. Caso alguém queira desenvolvê-lo em sua escola, me escreva.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

No dia seguinte da partida ou após a presença...


Casa bagunçada, não há
Roupa espalhada,não há
Sapatos, um par em cada lugar, não há
Bijuterias, minhas e alheias, distribuídas pelas prateleiras, não têm
Porta aberta, não mais
Toalha molhada, não mais
Todos os copos sujos na pia, não estão
Home theater ligado, não está
Rabiscos de contas e telefones no meu diário, já não têm

Tudo em seu lugar como sempre
Principalmente o vazio que a aqui residi
Sozinha, livre, somente só

Para quê?
Ver o creme dental sempre no mesmo lugar?

Não se demore, Maninha!

Seja bem-vindo!


Estréio com um pouco de alegria. A vida é assim: altos, baixos e alguns saltos 7,5. Tudo bem.
Decidi atender aos pedidos. Fique à vontade, entre. Sente-se, sirva-se de minha cachaça _ é da boa, sabe o quanto sou exigente com o paladar. Ouça meus discos, mexa nos meus livros, desarrume meus bichos de pelúcia. Sinta-se em casa. Se quiser repousar, posso deixar o quarto bem escurinho pra você.

Puxe uma cadeira, a casa é sua!