segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Solitudine

Não sei se esta idéia de felicidade de mulher independente, auto-suficiente, sozinha, completa... há verdade total.

A solidão existe para todas ou todos _ como queiram. O que fazemos é criar empecilhos para impedir sua atuação. Umas trabalham muito, outras cuidam de sobrinhos, algumas freqüentam roda de samba de segunda a segunda, escrevem, navegam na rede. Tudo para se desvencilhar do “estado” solitário. Será que resolve?

A solidão é camaleônica, adequa-se ao espaço e ao tempo. Numa hora ou outra, ela aparece. Seja com estardalhaço, fazendo doer o peito, aos berros para que saibamos que ela está ali, bem pertinho; ou com estratégia, sorrateira, espreitando o momento certo de se aproximar, assim não prenuncia sua chegada. Às vezes, até se faz de meiga, doce, senta-se ao nosso lado no sofá como se fosse uma antiga companheira. E ali, fica, preenchendo o vazio, se fazendo presente, residente no espaço daquilo que ainda não conseguimos atingir ou alcançar.

Calma, não estou deprimida. Mas quem um dia não se sentiu sozinho no meio da multidão?

Esta noite, durante uma atividade na sala de aula, em que os alunos deveriam apresentar à turma o texto que escolhera de Clarice Lispector. Um dos citados foi a crônica Você é um número. Ao refletirmos sobre o tema, nos deparamos com a idéia de solidão oriunda da impessoalidade. A conversa foi filosófica...

Chegamos à conclusão que ao sermos representados socialmente por um número, não adquirimos só a exclusividade da existência, mas junto com ela vem a impessoalidade. Esta em seu sentido mais pejorativo. É quando nos referimos ao nosso segundo carro, ao nosso terceiro ex-noivo, ao quinto cachorro. O distanciamento é tanto que no decorrer da conversa até nos esquecemos dos nomes das personagens.

E nesta forma de classificação – numeral - ao sermos ímpares, únicos, sem duplicação de CPF, somos seres solitários sem comprometimento com o alheio, sem culpa no cartório.

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