segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A flor da batata


D. Alaíde, uma senhora com um pouco mais de 70, minha vizinha de frente. Abro o portão e lá está D. Alaíde. Convidei-a para diagnosticar meu jardim. Bem, ainda não é um Jardim mas é um projeto afetuoso. Tem estrutura de alvenaria e cinco vasos de plantas.

D. Alaíde prontamente atendeu a minha solicitação. E, lá, encurvada, revirava a terra de cada vaso. A dama da noite brotada na noite em que Maalum veio ao mundo secara. A experiente mulher decretou: esturricada! 

As espadas de Jorge e Bárbara _com licença são meus íntimos_ foram reunidas no mesmo vasilhame e receberam um bom agrado de terra preta. Já o lírio, aquele da paz, fora abafado pelo espaçoso oriri, a ele não restou terra.  “Tem que comprar”, ordena a botânica.

Senti muito pela dama da noite, presente da tia avó. Derrubei sua terra no chão e iria lavar seu vaso quando: - Não, filha! Nem tudo que parece sujeira o é. Deixe-me ver esta terra, quero a batata. D. Alaíde planta a batata com a terra da dama da noite. “Pronto, prontinho, agora é só esperar a chuva.” Chuva, veio muita, e com ela flores. Flores da batata plantada por D. Alaíde.

Ainda não pude mostrar o resultado a D. Alaíde. Nossos encontros são no desencontro do tempo. Será que terei coragem de agradecê-la não só pelas flores, mas também pela oportunidade de aprender a semear?

domingo, 30 de janeiro de 2011

Estou nesta edição da Revista da ABPN - Não Percam!!!!

Revista da ABPN - Volume 1, número 3, nov. 2010 - fev. 2011 - ISSN 2177-2770


Apresentação
Ana Flávia Magalhães Pinto, Eliane Cavalleiro e Tatiane Cosentino Rodrigues

Mulheres e homens negros são sujeitos de conhecimento, sim! Não há dúvida. Ressaltando esta feliz realidade, apresentamos o terceiro número da Revista da ABPN. Após um ano de trabalho árduo, temos motivos para comemorar e, mais do que isso, avaliar nossas conquistas e desafios para dar continuidade ao projeto.
No que diz respeito ao público e à recepção deste periódico científico, os números são animadores. Já são quase 8 mil visitas à Revista, com acessos vindos das Américas, da África e da Europa. Cada texto teve uma média de 300 acessos realizados por leitores(as) brasileiros(as) e de países como Estados Unidos, Portugal, França, México, Colômbia, Uruguai, Argentina, Moçambique, Senegal, Canadá, Espanha, entre outros.
A contribuição do público local foi decisiva. Todavia, temos que reconhecer que essa interlocução demonstrada pelos números deve muito ao diálogo estabelecido com intelectuais negros(as) de diversos pontos da Diáspora e do próprio continente africano, entre os quais se encontram aqueles(as) que nos enviaram seus textos para enriquecer e diversificar o debate.
O cenário é, pois, propício para reafirmar o compromisso da Revista da ABPN com a construção de uma crítica epistemológica da realidade e da organizaçao social do conhecimento. De tal sorte, a organização deste terceiro número buscou ampliar essa interlocução entre intelectuais da Diáspora Negra, tanto no que diz respeito às origens geográficas dos(as) autores(as) quanto às suas áreas e perspectivas analíticas.
O primeiro artigo “Territórios ancestrais afro-equatorianos: uma proposta para o exercício da autonomia territorial e dos direitos coletivos”, de Jhon Antón Sánchez, apresenta uma discussão sobre a recente experiência do povo afro-equatoriano em sua relação com o novo Estado plurinacional, tal como disposto na Constituição de 2008. Na medida em que a garantia dessa autonomia está estreitamente vinculada ao controle político dos territórios ancestrais, Sánchez ressalta os entraves históricos e as pressões econômicas que podem comprometer a implementação das novas “circunscrições territoriais” afro-equatorianas, peça-chave desse processo.
A relação entre reconhecimento de direitos coletivos à terra e garantia de autonomia é também um tema abordado por Paula Balduino de Melo. Em “Quilombos: transição da condição de escravizado à de camponês livre”, a autora desenvolve uma reflexão sobre os problemas enfrentados por indivíduos e comunidades negras rurais para se constituir como sujeitos políticos na luta por reforma agrária no Brasil.
Por sua vez, Arivaldo Santos Souza retoma o debate sobre racismo institucional no Brasil − que tem se valido, sobretudo, do conceito britânico apresentado no relatório Macpherson − e propõe um aprofundamento da discussão, a fim de que a crítica possa ir além da responsabilização das instituições e passe a encarar o sistema de crenças racistas que antecede a existência daquelas, conforme defendido no conceito original, formulado por intelectuais do movimento Black Power, nos anos 1960.
Os artigos de Jaime Amparo-Alves e Claudia Mosquera Rosero-Labbé servem, pois, para iluminar o alcance da problematização levantada por Souza. Em “Necro-política racial: a produção espacial da morte na cidade de São Paulo”, Amparo-Alves recorre a dados empíricos para demonstrar a vigência de uma dinâmica de “espacialização da morte” na maior cidade do país, marcada por uma maior incidência de óbitos decorrentes, sobretudo, de doenças evitáveis, bem como da violência homicida dirigida ao grupo populacional negro. Já Claudia Mosquera aproveita as atuais comemorações do bicentenário da Independência colombiana e coloca em xeque as limitações impostas à cidadania dos afrodescendentes no país, sem deixar de apresentar questionamentos à própria atuação dos movimentos sociais negros colombianos, no que toca as estratégias de encaminhamento das demandas estruturadas ao longo das últimas décadas.
No âmbito da historiografia, este número oferece dois artigos que compartilham o interesse pelas experiências de conflitos, ajustamentos e reelaborações socioculturais na Diáspora Africana. A partir de processos crime, jornais e textos memorialísticos, Washington Santos Nascimento desenvolve os argumentos do artigo “Depois do Treze de Maio: representações sobre ex-escravos e seus descendentes em Vitória da Conquista, Bahia (1888-1930)”. O autor chama atenção tanto para a participação dos negros no comércio escravista da região quanto para os conflitos raciais no pós-abolição. A narrativa ilumina ainda algumas trajetórias de indivíduos negros, que permitem entrever modos e estratégias estabelecidas por esses sujeitos para estar e sobreviver numa sociedade racializada e fundada na escravidão. Por seu turno, “Entre a África e o Recife: interpretações do Culto Chambá”, Valéria Gomes Costa apresenta um estudo comparativo cuja finalidade é dimensionar aproximações e distanciamentos entre as práticas culturais verificadas no Terreiro Santa Bárbara, de Nação Xambá, e aquelas reproduzidas pelos chambas, etnia habitante das regiões do Mapeo e do Yeli, localizadas nos atuais Nigéria, Camarões e Togo.
A Literatura Feminina Negra é outro assunto de destaque nesta coletânea. Miriam Alves e Francineide Santos Palmeira, a partir de diferentes perspectivas, apresentam um balanço crítico da produção literária das mulheres negras e ressaltam a importância da afirmação desse sujeito de fala negligenciado e silenciado entre os cânones da literatura nacional.
Já o último artigo tem como foco a Educação. Fernanda Santos, em “Práticas Pedagógicas nas Relações Étnico-raciais: Identidade e Memória” apresenta os resultados de sua pesquisa-ação numa turma de Educação de Jovens e Adultos, em Niterói, tendo como objetivo desenvolver e compartilhar práticas pedagógicas voltadas para a implementação da Lei n. 10.639/03.
Tal como entre os artigos, a seção de resenhas também buscou contemplar a diversidade temática de interesse da Revista. Os textos críticos dedicaram atenção às seguintes obras: Mocambos de Palmares: histórias e fontes (séc. XVI-XIX), organizado pelo historiador Flávio Gomes; A Cosmovisão africana no Brasil – elementos para uma filosofia afrodescendente, de Eduardo David de Oliveira; A África deve unir-se, do pensador e político ganense Kwame Nkrumah; e Os nove pentes d'África, de Cidinha da Silva.
Desejando a todos(as) uma boa leitura, aproveitamos para agradecer o trabalho comprometido dos membros dos Conselhos Editorial e Consultivo da Revista, bem como dos demais pareceristas, em sua decisiva contribuição para a nem sempre tranquila tarefa de análise e qualificação dos artigos submetidos. Sigamos, então, com nosso compromisso para que em 2011 seja possível continuar crescendo com a colaboração de todos e todas.

sábado, 20 de novembro de 2010

Consciência Negra em foco no SESC Teresópolis



Consciência Negra em foco

Dia 18/11
19h
Palestra Ecos da hipertensão: vivências de mulheres negras no Rio de Janeiro

Adriana Soares Sampaio – Psicóloga especialista em História da África e do Negro no Brasil e mestre em Psicologia Clínica.
Pesquisa realizada com 15 mulheres que se identificavam como negras apontaram diversos relatos de como suas vivências contribuíram para o agravo da saúde e desenvolvimento de doenças como a hipertensão.
Local: Sala de Vídeo


Dia 24/11
14h
Oficina de Tranças Afro
Oficina voltada para a transmissão de uma tradição e valorização de uma identidade.
Local: Quiosque


14h 
Oficina de Jongo
Patrimônio Imaterial, tombado pelo IPHAN em 2005, o jongo é um ritmo tradicional afro-brasileiro típico da região sudeste imerso em conceitos que valorizam a vida comunitária, respeito à ancestralidade e a natureza. Oficina específica para agendamento de escolas.
Local: Quadra


18:30h
Mesa redonda – Sustentabilidade e Relações Etnicorraciais

Composição da mesa:

Fernanda da Silva Santos, Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da SEE / RJ; Jorge Luiz Silveira Ribeiro, Professor de História e Sociologia da SEE / RJ e do Município de Nova Friburgo; Simone Ferreira dos Santos, Professora de Geografia e Gestora de Projetos – CIEDS; Glória Maria dos Santos Corrêa, Professora do Ensino Fundamental da SME / RJ.

Com base na aplicação da Lei 10.639 / 03 que inclui no currículo oficial a temática História e Cultura Afro-brasileira a mesa propõe o debate sobre as relações etnicorraciais em favor do alcance de um cenário sustentável, promovendo o respeito à diversidade e aos seus espaços de manifestação com a responsabilidade de contribuir para uma boa relação com o meio ambiente.
Local: Teatro20:30h 



Show Identidade
Show de encerramento da mesa redonda com o Grupo Negros & Vozes, explorando o repertório de músicas do folclore africano, sul americano, MPB e Blues norte americano
Local: Teatro 



Serviço:
  • O SESC - Teresópolis fica na Av. Delfim Moreira, 749, Várzea.
  • Eventos gratuitos.
  • Todas as atividades necessitam de inscrições prévias pelo telefone 2743-6932, pelo e-mail joycenahoum@sescrio.org.br ou pessoalmente na administração do SESC. Em caso de sobra de vagas, no dia da atividade a participação será liberada


Jinsambu uá Mukuolua-muhatu pala Nzambi

Em função do Dia dos Professores, compartilhei com vocês minha alegria em ter uma aluna premiada em um concurso de poesia promovido pela UPPES. Para minha surpresa, a alegria do momento fora indescritível.

Durante a cerimônia de entrega do troféu, ao subir ao palco e declamar a poesia premiada, a minha querida e talentosa Alecy aproveitou a oportunidade para me agradecer da forma mais honrosa e sublime: escreveu um poema para mim no idioma bantu. Como ela conseguiu produzir esse poema? Com as palavras e as expressões que apresentei nas aulas durante o projeto sobre o jongo. Além de estudarmos esta manifestação cultural, também conhecemos um pouco do universo dessa cultura, como os países que falam esse idioma, a influência dele em nossa Língua Portuguesa, os diversos dialetos que o compõe.

E garimpando palavras, selecionando emoções, escolhendo desejos ela esculpiu este MEU presente inesquecível.


Jinsambu uá mukuolua-muhatu pala Nzambi
Oração de uma guerreira para Deus

Alecy Lasse da Cruz, aluna 8 ano - EJA E.E. Dr. Memoria

Nlundi kamba (Guardião amigo)
Kubolama kamba (Ajoelha-se amigo)
Kujikula o muxima (Abri o coração)
Nzambi kubana o kukóue (Deus vai dar vitória)

Nzambi kubana nguzu (Deus vai dar força)
Kunoka dibutu (Chuva em abundância)
Kuikila kamba (Acredita amigo)
Dibanda uá makóiu (Chuva forte de benção)

Sansuka a kikóue (Viver na vitória)
Ukindi o Nzambi (Honra a Deus)
Ntonta, nguzu Nzambi (Experiência, força só em Deus)

Nguzu Nzambi (Força só em Deus)
Makóiu ni ngala (Benção e alegria)
Kubolama ni kutondela (Ajoelhar-se e agradecer)
Nzambi ikale ni enhe (Que Deus lhe acompanhe)


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do Professor

Passamos em torno de quatro anos lendo, ouvindo sobre o papel social do professor, no quanto nossa atuação deve fazer a diferença e tantos outros conceitos tão fáceis de serem compreendidos nos livros especializados. Nosso coeficiente acadêmico é excelente, somos formados, informados, treinados, e muito bem treinados, nas teorias.

Em sala, a realidade nua e crua. Sim, é um lugar-comum. Pois já são mais do que conhecidas as dificuldades de se exercer a profissão, hoje. Aí, vamos tentando, acertando, errando, aprendendo.

Em 15 de outubro para alguns, é claro, acordamos ansiosos pelas felicitações, pelo reconhecimento, pelo menos por uma lembrança da data.

Desculpe-me se pareço soberba com o que vou dizer. Eu recebi minha homenagem pelo dia do professor na semana passada. No dia 20, acompanharei uma aluna ao recebimento de um prêmio por ter obtido o 2º lugar no concurso de poesia da União Dos Professores Públicos Estaduais (UPPES). Que presente, né?! Não, isso ainda é mais valoroso. A aluna ganhadora deve estar há mais de 40 anos fora da escola.

Agora, entendo toda aquela teoria aprendida sobre o fazer a diferença. Não a ensinei a escrever poemas, sequer dei-lhe um livro de poesia. Apenas acolhi sua experiência quando a trouxe para sala. Ao me mostrar seus escritos, tímida, receosa com a crítica que poderia receber, folheou um caderno com um, dois, dez, vinte, cinquenta poemas.

Acolhi, acreditei e a inscrevi no concurso. Não discriminei sua linguagem, não desprezei sua bagagem de experiências, seu conceito de belo e seu orgulho em ter produzido. Ela me deu a oportunidade de pôr em prática o que há pouco eu defendia teoricamente com tanta proprieadade em uma monografia.

E lá estarei eu, no dia da premiação, inflamada de orgulho pela oportunidade de participar da conquista de um aluno e por ter conseguido “concretamente” fazer a tão ensinada diferença.

Um lindo dia dos Professores para nós que ainda acreditamos em nosso papel.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tem coisas que não devem ser guardadas conosco, somente.

Sabe...
a ventania sempre me fascinou. Um pouco de medo, é claro.
Eu a via como magia, poder de mover as coisas de seu lugar. Lembro-me bem dos finais da tarde de verão, quando a pancada de chuva se aproximava. Primeiro, vinha ela soberana, poderosa em sua harmonia própria, num encanto irresistível e avassalador. Uns corriam para casa, eu fechava os olhos diante da poeira da rua de terra batida e tentava atravessá-la, medindo força como se eu pudesse transpô-la.

Ela, sábia, era complacente, eu era apenas uma criança.

Hoje, neste presente tão indicativo, não me atrevo a desafiá-la. Jamais! Entretanto, estamos mais próximas, aprendi a conhecê-la. Sei que antes de chegar aquele ponto outrora lembrado, ela fora brisa, assim como eu fui menina.

No estágio da inocência somos mais solícitos, mais permissivos, mais sensíveis. E, por isso, a toda brisa que passa aproveito para pedi-la para te dizer que tenho saudades.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

GINCANA LITERÁRIA

Escreva uma narrativa para esta foto.






A vencedora Franciane foi premiada com os livros Marley e Eu e Como domar seu dragão.


Leia o texto vencedor:


Na floresta amazônica, um garoto tinha mais ou menos 14 anos, tinha amor pela caça. Então, um certo dia, ele resolveu entrar na floresta. Ele passava noite e dia em busca destes animais. Perto dali, ele acampou e resolveu entrar na floresta, então ele ouviu um barulho e foi ver o que era. No dia seguinte, ele pegou uma máquina e tirou uma foto dele com os três bichos estranhos.