domingo, 18 de abril de 2010

CARTA ABERTA DA E. E. Dr. Memória

"A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte."


A chuva e suas consequências, que castigaram o estado do Rio de Janeiro dias atrás, descambaram em uma tragédia de dimensões incalculáveis, deixando todos consternados. O número de vítimas fatais e de desabrigados cresce diariamente pondo a nu o estado de vulnerabilidade em que nos encontrávamos e fazendo-nos sentir como meros sobreviventes pós a passagem de um tsunami.

Como em todas as enchentes, a culpa acaba caindo sobre os ombros de São Pedro ou dos próprios mortos, pois na visão estreita das autoridades, seria absurdo concluirmos que as ruas enchem porque não há um sistema de escoamento da água da chuva (independente de sua quantidade) decente, que os deslizamentos de terra acontecem porque não há ações prévias de contenção de encostas, que o poder público poderia ter impedido a construção de casas onde antes era depósito de lixo e que as pessoas constroem suas casas em locais de risco não porque querem, mas por mera falta de alternativa diante de um cenário habitacional que privilegia a especulação imobiliária, adicionado à ausência de um sistema de transporte público barato que facilite a construção de moradias longe do centro das idades.

Nós, profissionais do ensino da Escola Estadual Dr. Memória, trabalhamos na região mais castigada dessa recente tragédia. Convivemos com centenas de pessoas que perderam suas vidas ou todos os seus bens materiais e, obviamente, não podíamos ficar alheios à dor dessas famílias e apenas esperarmos as soluções (escassas) advindas de nossos governantes. Abrimos nossa escola para os desabrigados e nos orgulhamos em saber que esse estabelecimento de ensino se tornou uma referência de solidariedade para a comunidade sofrida do Cubango, Viçoso Jardim e adjacências. Hoje, mais de duzentas pessoas dormem, comem e tomam banho em nossa escola.

Entretanto, além da solidariedade e do amparo às famílias que viram parte de suas vidas ser levada pelas águas, entendemos que esse momento também é de cobrança às autoridades competentes (especialmente ao prefeito de Niterói e ao governador do estado do Rio de Janeiro) para que solucionem rapidamente o problema dos desabrigados, possibilitando com isso que nossa escola possa voltar a exercer suas atividades normais. Não podemos permitir, em hipótese alguma, que a acomodação e o descaso do poder público transforme a E. E. Dr. Memória em um abrigo permanente.

Por isso, os profissionais dessa escola, em assembléia geral realizada n dia 14 de abril de 2010, aprovaram o encaminhamento desta carta aos órgãos públicos competentes para deixar claro que QUEREMOS VOLTAR A SER UMA ESCOLA e que queremos novamente ter a possibilidade de realizar a tarefa para a qual esse estabelecimento surgiu e se consolidou, tarefa esta também imprescindível a essa comunidade carente, que é a tarefa de "EDUCAR'.

Profissionais da Escola Estadual Dr. Memória

Rua Noronha Torrezão, 335 - Cubango - Niteroi